30.7.15

subindo a serra

Foi uma semana conturbada. Tanto que esquecemos da pousada reservada pro sábado. Cogitamos desmarcar, mas já era sexta à noite e não nos restou outra alternativa senão arrumar as malas.

Subimos a serra até Santa Rosa de Lima. Ano passado estive lá com o Dudu, que dessa vez ficou em casa estudando. Estar sozinha com minha família foi como voltar no tempo - não viajávamos juntos há mais de dois anos. A todo instante, vinham lembranças das aventuras que vivemos nós cinco, e me senti agradecida por serem tantas e tão boas.

Ficamos num chalé na beira do lago, com fogão a lenha e rede na varanda. Fazia frio, mas o tempo estava ensolarado e sem nuvens. A dona da pousava continuava tão simpática quanto da outra vez, e seu filho pacientemente nos levou para conhecer os arredores. Entre refeições, caminhadas e conversas, o dia passou num piscar de olhos.

Quando o sol se pôs, sentei na rede olhei pro céu. Na cidade, a noite parece chegar tão rápido, mas ali é como se a Terra girasse mais devagar. Observei o azul claro virar amarelo, depois laranja e roxo. Dentro do quarto, minha família tirava roupas da mala e se agilizava pra tomar banho. Logo chegou minha vez - mas quis esperar até que todas estrelas estivessem acesas.














9.7.15

rio de janeiro


No fim de dezembro, eu e minhas irmãs embarcamos rumo ao Rio de Janeiro. Mais que férias, essa viagem tinha um significado especial: a Alice ansiava por relaxar de uma rotina puxada de faculdade e trabalho, a Nina precisava provar pra ela mesma a sua independência e eu esperava pôr fim a um ciclo de medos e ansiedades.

Já no aeroporto, fomos recebidas por um calor sufocante. Munidas de nossas malas, pegamos um ônibus com ar-condicionado pra Ipanema - onde passaríamos os próximos dias. O frescor e o conforto das poltronas fez com que eu e a Alice dormíssemos imediatamente. Já a Nina não tirava os olhos da janela e vibrava com cada novidade que avistava.

O Rio de Janeiro é um bonito caos, que pulsa com a vida da natureza e das pessoas. A energia do mar contagia a cidade e o povo é alegre, simpático e barulhento. Pra minha surpresa, fui chamada de "meu amor" por garçons e engatei uma conversa animada com uma desconhecida no supermercado.

Em Ipanema, já acordávamos atrasadas. Os barulhos lá fora nos lembravam que o tempo não espera por ninguém. Todas as manhãs, saíamos do hotel empolgadas com as aventuras que o dia reservava: mergulhos no mar, passeios de bicicleta, pôr do sol na praia. À noite, jantávamos em algum restaurante delicioso e caíamos exaustas na cama.

Em um sábado de muito calor, pegamos um ônibus lotado pra Vargem Grande - onde passaríamos alguns dias. Os prédios eram cada vez mais espaçados e a paisagem cada vez mais verde.  De uma hora pra outra, nuvens cobriram as montanhas e uma chuva fina fez vapor sair do asfalto. Deixei a janela aberta e senti cada pingo refrescar minha alma.

A casa da tia Sil e do tio Marquinhos fica no meio do mato - uma das últimas de uma longa estradinha de terra. Por lá, os dias demoravam pra engrenar e o único som era o dos pássaros. Muitas vezes, adiávamos planos e passávamos o dia lendo um livro, tomando banho de ducha e degustando as delícias preparadas pela tia Sil na cozinha.

Tanta paz me fez perceber o quão conturbada eu estava por dentro. O tempo livre e o isolamento trouxeram à tona angústias que não pude ignorar: apesar do silêncio lá fora, elas gritavam dentro de mim. Quis sair, caminhar, ver pessoas, mas não adiantou. Logo percebi que não teria férias de mim mesma - o medo e ansiedade continuariam me consumindo enquanto permitisse.

A viagem terminou e voltei pra casa com uma certeza: chegou a hora. Durante os próximos meses, precisaria encontrar o que me deixava sempre a um passo da felicidade - e descobrir como me livrar daquele peso que carregava sem meu consentimento. Não seria uma tarefa fácil, mas eu estava pronta.